Neste artigo vamos concentrar nossa atenção na utilização de ar comprimido para a proteção respiratória com foco na qualidade do ar respirável.
Durante um treinamento de usuários de equipamentos de proteção respiratória, em uma metalúrgica, quatro trabalhadores que participavam do treinamento pediram esclarecimentos sobre o uso de linha de ar comprimido. Disseram que: “utilizavam peças faciais inteiras acopladas a linha de ar e que este ar cheirava mal, molhava o rosto e ainda continha gotículas de óleo. Muitas vezes, o ar era quente o que tornava o uso desse tipo de respirador ainda mais difícil.” Relataram que: “Era impossível utilizar o respirador por todo o período de trabalho, como requerido.”

Pedimos para conhecer o local e avaliar, de perto, a situação. A primeira constatação foi que as máscaras necessitavam manutenção e foi detectada a presença de óleo no interior do respirador. Checando os pontos de suprimento de ar, onde as mangueiras eram conectadas, notamos também presença de gotículas de óleo tanto nas mangueiras como nas traqueias e reguladores de ar.
Foi identificado que o painel regulador e de entrada de ar comprimido estava conectado a um compressor de uso geral na empresa. Esse compressor alimentava as ferramentas e outros equipamentos pneumáticos utilizados na planta industrial e, inclusive, o equipamento para proteção respiratória. Necessário esclarecer que em muitos sistemas de linha de ar industrial adiciona-se um pouco de óleo para proteção dos equipamentos conectados, assim o ar comprimido carrega pequenas gotículas de óleo para lubrificar os equipamentos.
Alguns pontos importantes a serem observados no uso de ar comprimido para proteção respiratória:
- O compressor deve ser dedicado a esse uso de forma exclusiva. Não deve ser utilizado para outros fins.
- Deve-se checar e manter a qualidade do ar, de forma que atenda os padrões de grau D especificados no documento da FUNDACENTRO*.
- Entre os requisitos definidos para esse padrão de qualidade, estão: concentração de O2 (oxigênio) entre 19,5 e 23,5%; concentração máxima de CO (monóxido de carbono) de 10 ppm e de névoas de óleo 5 mg/m3.
- Além desses parâmetros, a presença de água em excesso causa desconforto ao usuário do respirador.
- Antes de cada uso deve ser feito uma purga de água na linha, principalmente quando o sistema ficou vários dias sem uso.
- Os painéis filtrantes e reguladores de ar devem ainda possuir um filtro coalescente para retirada do excesso de água.
Alguns painéis que encontramos nas indústrias possuem umidificadores. Não é recomendado, pois o excesso de água pode favorecer a criação de colônias de bactérias, além de causar desconforto ao usuário do sistema de proteção respiratória. A água adicionada pelo umidificador é carregada para dentro do equipamento na forma de gotículas, tornando úmido o interior da cobertura facial.
Outro alerta importante que precisamos fazer para segurança do trabalhador é a respeito do costumeiro uso da linha de ar para limpeza de máquinas, ferramentas, roupas e partes do corpo. Esse procedimento é muito perigoso. O ar soprado impacta contra partículas presentes no local de trabalho e pode lançá-las contra os olhos e outras partes do corpo do trabalhador, podendo causar sérias lesões. Temos registro de trabalhador que rompeu o tímpano realizando esse procedimento.
Antes do uso de ar comprimido em qualquer atividade, leia com atenção o capítulo 11 e o anexo 13 do documento da FUNDACENTRO*.
Dúvidas ou comentários? Algum caso parecido com o uso de linha de ar para proteção respiratória? Envie-nos para divulgarmos. Abraços e sucessos.
* Programa de Proteção Respiratória: Recomendações, seleção e uso de respiradores, 4ª Edição: Fundacentro, 2016.