Durante a semana de 11 de abril deste ano de 2024 celebramos os 30 ANOS da Instrução que definiu o requisito normativo para a implementação do Programa de Proteção Respiratória (PPR) em todas as empresas que utilizam respiradores como forma de controle da exposição dos trabalhadores a inalação de agentes químicos ambientais. Estivemos reunidos, em Joinville/SC, nos dias 11 e 12, com os principais especialistas em proteção respiratória no Brasil, em um seminário para discutir este tema.
Alguns dias após o seminário, como forma de retribuição e de dar respostas às várias perguntas que não puderam ser respondidas durante o evento, foi realizada uma Live. Foram feitas diversas perguntas interessantes durante esse encontro on-line. Uma das questões se referiu ao “monitoramento” de uso de respiradores. Um participante do evento solicitou o compartilhamento de um bom exemplo de monitoramento de uso. Decidimos compartilhar a sugestão através deste artigo.
Devemos inicialmente levar em consideração que o monitoramento de uso, segundo o documento da FUNDACENTRO, deve ser estabelecido por meio de um procedimento operacional. Portanto, o administrador do PPR, ou o profissional responsável, deve definir de forma clara e objetiva como o monitoramento de uso é realizado na empresa. Vejam que o tempo verbal desse, e de qualquer outro procedimento escrito, deve ser o presente, e não o futuro condicional. Os procedimentos operacionais devem relatar como aquela atividade é realizada e não como deveria ser.
Então, como escrever esse procedimento?
Cada empresa tem a sua maneira de controlar o uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs). Isso se inicia, na maioria das empresas, por um controle de entrega do equipamento. A entrega pode ser no almoxarifado ou na própria área. Um registro com o nome de quem recebeu o equipamento, modelo, número do C.A., tipo e tamanho do equipamento, deve ser parte de uma ficha arquivada com a pessoa ou setor responsável pela entrega. Alguns respiradores possuem filtros e peças de reposição, sobre as quais também deve-se manter o controle de entrega. Essas informações são de extrema importância para poder ser realizado o controle de vida útil de filtros e das peças utilizadas. Também servem para verificar se o equipamento está sendo realmente utilizado ou está simplesmente estocado em uma gaveta, ou armário, sem uso.
Sem dúvida, o monitoramento de uso deve verificar se o trabalhador utiliza o equipamento em todos os momentos que esteja presente em uma área de risco, se o utiliza corretamente, se faz a verificação da vedação quando veste o equipamento, entre outros itens presentes nos requisitos normativos e indispensáveis a segurança. Esse monitoramento, em muitas empresas, é feito por procedimentos de observação comportamental. Essas observações podem fazer parte de um programa abrangente, que inclua outros itens referentes ao controle da exposição dos trabalhadores aos riscos existentes no ambiente ou pode ser algo específico para uso de respiradores.
Em geral, esses programas devem fazer parte das atividades dos líderes de produção. Eles devem conhecer os riscos inerentes às atividades desenvolvidas pelos operadores, funcionários da manutenção, visitantes e outros, e devem ser responsáveis pela segurança dessas pessoas. Um ponto crítico em qualquer programa de observação comportamental é como se realiza a abordagem. Em especial, não devem ser abordados somente trabalhadores que agem de forma irresponsável ou em descumprimento das regras de segurança.
Um bom programa de observação comportamental deve ser orientado de forma que o líder percorra a área com esse objetivo em mente. Escolha um dos trabalhadores, de forma arbitrária. Observe, de longe, o comportamento do trabalhador, sem que ele perceba. Caso ele desempenhe suas atividades respeitando as regras de segurança, utilizando corretamente os EPIs e, em nosso caso, o EPR, deve abordá-lo, questionar sobre suas atividades e “reforçar positivamente” os cuidados e o uso correto com o respirador.
Caso encontre algo errado, como a falta ou má utilização do respirador, equipamento mal colocado sobre a face, entre outras falhas ou não conformidades, a abordagem deve ser no sentido de que o usuário do respirador perceba o erro. Isso pode ser feito com perguntas abertas sobre os riscos presentes ou sobre a eficiência do respirador. Deve-se deixar que o trabalhador mencione o problema da má colocação e justifique por que não fez a verificação da vedação quando o vestiu o respirador. Por fim, deixar que ele se “comprometa” com a correção do problema e fazer uma proposta de abordá-lo novamente no futuro, uma ou duas semanas à frente, para verificar se ele mudou seu comportamento. Por fim, agradeça seu empenho e deseje uma boa e segura jornada de trabalho.
Uma maneira indireta de se monitorar o uso de respiradores é através do monitoramento biológico. Se um trabalhador que utiliza respirador apresentar qualquer alteração nos índices biológicos de exposição, uma das causas possíveis é o uso incorreto da proteção respiratória.
Isso tudo que foi posto pode ser um bom exemplo de monitoramento de uso. Mas, não adianta escrever isso em um procedimento se essa prática não existir realmente no ambiente de trabalho. Para escrever qualquer procedimento operacional pertencente ao PPR, é importante e necessário que ele seja praticado.
Fica a dica. Bom trabalho!