Há uma grande preocupação da população em geral, síndicos de edifícios e prefeituras, quanto a manutenção e limpeza das áreas habitadas, em especial para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti e, com isso, evitar o aumento dos casos de doenças transmissíveis por vírus, entre elas: dengue, chikungunya, zika, febre amarela etc. Isso tem levado as famílias e trabalhadores ao uso de produtos químicos perigosos.
A história que vamos contar hoje se passou durante um final de semana. Em uma pequena caminhonete que passava pela rua, o motorista anunciava através de um autofalante, a venda de produtos de limpeza para acabar de vez com os focos dos mosquitos transmissores dessas doenças. Dizia ainda que o produto não possuía cheiro desagradável e não apresentava riscos para crianças, idosos e animais domésticos.
O produto era apresentado em embalagens de um e cinco litros, com várias cores e fragrâncias diferentes. A primeira observação é que não havia rótulo nas embalagens. Questionado sobre a composição do produto, o vendedor disse que era segredo e não podia passar a fórmula, pois corria o risco de ser copiado.
Perguntado sobre alguma informação a respeito da toxicidade e cuidados no uso, ele disse que o produto não era comercializado em indústrias e, por isso, não havia necessidade dessas informações. Ou seja, o produto era preparado de forma caseira, sem qualquer comprovação de efetividade, nem segurança no uso. A rotulagem do produto químico fornece as informações a respeito de seus potenciais perigos e as precauções de segurança necessárias quando de sua utilização, armazenamento e/ou descarte. A correta rotulagem comunica os riscos associados aos produtos químicos aos trabalhadores, consumidores, profissionais de saúde e segurança e as autoridades.
Vamos analisar alguns dos riscos no uso de tais produtos, cuja comercialização é comum em muitas partes do país. Pode, realmente, até ser de baixa toxicidade para pessoas e animais, mas também pode não funcionar para o fim destinado, que é eliminar os insetos causadores de doenças. Entretanto, pode ser pior, pois além de não funcionar, pode ser tóxico e não há informações dessa natureza disponíveis.
Outros produtos de limpeza são oferecidos livremente, como desinfetantes, detergentes, água sanitária, venenos para formigas, moscas e mosquitos. Todos sem qualquer informação sobre composição, toxicidade e uso seguro. Essas substâncias são adquiridas por terem preços mais baixos que os produtos industrializados. São utilizadas em residências ou em condomínios por funcionários contratados, sem nenhum tipo de precaução.
Na aplicação desses produtos pode ocorrer o contato direto com a pele. Muitas vezes, são aplicados em locais fechados utilizando algum tipo de aspersão, com a possibilidade de contaminação do ar, o que pode ser perigoso se inalado pelo sistema respiratório.
Tem sido muito comum a aplicação dessas substâncias no controle de pragas e, atualmente, no controle da proliferação do mosquito Aedes aegypti. A pulverização é feita por trabalhadores contratados pelas prefeituras, usando roupas especiais e respiradores do tipo facial inteira. Ficam aqui alguns questionamentos.
Como foi realizada a seleção do respirador e do filtro? Foram considerados a composição do produto utilizado e a concentração desses no ar? Os trabalhadores foram submetidos a ensaios de vedação facial? Trabalhadores que usam barbas são alertados sobre os riscos de falhas na vedação facial? Os trabalhadores passam por consulta médica?
São questionamentos que devem ser considerados antes da entrega do respirador para esses trabalhadores. É fácil observar a falta de treinamento no uso desses EPIs, pois é comum encontrarmos pessoas com barbas, máscaras sendo utilizadas com os tirantes por cima de bonés ou de óculos com lentes corretivas etc.
Não podemos esperar que a quantidade de pessoas com essas doenças diminua por causa da mudança da estação climática. O uso de produtos perigosos por pessoas não treinadas continuará. A falta de conscientização sobre esses perigos também continuará presente em muitas situações cotidianas. Cabe a nós, profissionais de segurança e saúde estar atentos e, sempre que possível, conscientizar a população em geral.