Deficiência de Oxigênio. Avaliação dos Perigos no Ambiente de Trabalho. Art. 2/10

Neste artigo, vamos abordar o primeiro requisito do item 4.2 do PPR da FUNDACENTRO* a respeito da avaliação dos perigos no ambiente de trabalho:

a) Determinar se existe risco potencial de deficiência de oxigênio. Quando existir, determinar o nível de oxigênio mais baixo que possa ocorrer em trabalhos de rotina ou em emergência.

A deficiência de oxigênio é uma situação de perigo muitas vezes presente em espaços confinados. Pode também ocorrer quando há inundação de um ambiente fechado, utilizado para ocupação humana, com algum gás asfixiante. Os gases asfixiantes mais utilizados na indústria são CO2 (dióxido de carbono) e N2 (nitrogênio).

Essa situação de risco é muito difícil de ser perceptível pelo trabalhador, pois não existem sinais de alerta, como cheiro ou cor. Muitas vezes, ela é criada durante ou em decorrência das atividades, ou seja, pode não existir, quando o trabalhador entra no espaço confinado. Em espaços confinados de grandes dimensões, pode haver bolsões de ar parado, ou seja, partes onde a concentração de oxigênio seja normal e partes com deficiência de oxigênio. Isso ocorre devido a ventilação deficiente nesses espaços.

Para entrar em espaços confinados com segurança devem ser feitas as aberturas apropriadas e estabelecer a ventilação forçada. Estas medidas podem ajudar tanto no aumento e até normalização da concentração de oxigênio, como na diluição de possíveis agentes nocivos presentes. A entrada em espaços confinados deve ser realizada conforme o estabelecido na Norma Regulamentadora 33 (NR-33). Ela define como espaço confinado qualquer área ou ambiente que não seja projetado para ocupação humana contínua, que possua meios limitados de entrada e saída, e onde possa existir atmosfera perigosa.

Entre as medidas de prevenção de riscos estabelecidas na NR-33 está o uso de respiradores para uso rotineiro e em situações de emergência, em conformidade com os riscos respiratórios. Portanto, há a necessidade de se conhecer os riscos respiratórios presentes tanto durante o trabalho, como em caso de fuga ou atendimento a emergências.

Segundo o PPR da FUNDACENTRO*, em casos em que não se conheçam os riscos respiratórios, deve-se selecionar para o uso as máscaras autônomas ou respiradores de linha de ar com cilindro auxiliar para fuga. Pode ocorrer a situação nas quais o ambiente interno do espaço tenha sido e mantido adequadamente ventilado de tal forma que o risco de deficiência de oxigênio pode ser considerado TRIVIAL. Entenda por risco TRIVIAL, aquele que é igual ao risco encontrado em outra situação de trabalho normal, fora de um espaço confinado. Nesse caso, a seleção do respirador adequado pode ser feita, utilizando os critérios estabelecidos para trabalhos rotineiros.

CASO SOBRE ENTRADA NO INTERIOR DE UMA TORRE EÓLICA

O caso hipotético que vamos contar aconteceu em uma empresa que fabrica torres de suporte para pás e rotor para a produção da energia eólica. As torres eólicas possuem um comprimento que variam entre 80 e 120 metros, de 3 a 4 metros de diâmetro.

Após terminada a construção de uma torre, percebeu-se que havia a necessidade de um reparo no revestimento interno, metálico, e o trabalho de reparo necessitava que fossem realizadas operações de soldagem no interior da torre. A torre estava na horizontal, pronta para ser enviada ao local de instalação.

Para isso, foram chamados dois soldadores, que adentraram no interior da torre. Iniciaram a operação de soldagem, usando Equipamento de Proteção Respiratória (EPR) do tipo PFF2, Peça Facial Filtrante com eficiência de filtragem superior a 94%.

Nesta situação, existe a possibilidade de deficiência de oxigênio, por vários motivos. O tamanho e configuração da estrutura podem promover pouca ventilação natural e os trabalhadores estavam realizando operação de soldagem, a qual consome oxigênio. E devido à baixa movimentação de ar, pode provocar uma alta concentração de contaminantes no seu interior.

A operação se iniciou, no interior da torre eólica, sem que fosse realizada uma avaliação da quantidade de oxigênio, nem outra medida de precaução, como insuflamento de ar de diluição, ou exaustão de contaminantes. Nessas condições de trabalho, pode ser que um EPR do tipo PFF2, como utilizado e indicado para proteção dos trabalhadores em operações de solda, não seja suficiente para garantir o nível de segurança necessário.

Deveriam ter sido realizadas medições de concentrações de oxigênio antes da entrada dos trabalhadores na torre, instalado um sistema de insuflamento de ar limpo e de exaustão de fumos metálicos. Outra medida necessária seria o acompanhamento dos serviços por vigias devidamente equipados com equipamentos para resgate, em caso de emergência.

Felizmente nada ocorreu, mas esse caso é bastante ilustrativo, uma vez que trabalhos dessa natureza são cada vez mais frequentes, em função do grande número de torres eólicas instaladas e em fabricação no Brasil.

RESUMINDO…

Evite a entrada em espaços confinados. Quando necessário o trabalho no interior de silos, tanques, reatores, galerias, tubulações e outros espaços não destinados à ocupação humana, siga os requisitos normativos estabelecidos na NR-33 e no PPR da FUNDACENTRO*.

Na próxima semana, daremos continuidade ao tema Avaliação dos Perigos no Ambiente de Trabalho abordando a segunda etapa desse processo, a Identificação dos Contaminantes que possam estar presentes no ambiente de trabalho.

* PPR da FUNDACENTRO. Programa de Proteção Respiratória: Recomendações, Seleção e Uso de Respiradores.

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