Semana passada escrevemos sobre a aplicação do método de Bandas de Controle para a seleção de respiradores. Mostramos que pode ser uma ferramenta útil para uso em situações nas quais ainda não há resultados de avaliações ambientais e pessoais disponíveis, para a tomada de decisão sobre qual respirador deve ser utilizado.
Falamos também que o método das Bandas de Controle disponível no Anexo 5 do PPR é mais conservador que o método tradicional, que utiliza resultados de amostragens pessoais para essa finalidade. Os valores de FPMR (Fator de Proteção Mínimo Requerido) obtidos pelo método Bandas de Controle tendem a ser maiores que os valores obtidos pelo método tradicional. No artigo de hoje, vamos contar um caso que fortalece essa percepção.
Durante as discussões que antecederam a publicação do livro da FUNDACENTRO, alguns especialistas eram contrários a introdução desse anexo que trata da seleção de respiradores, sem que tenham sido realizadas avaliações quantitativas. Desconfiavam que esse método poderia indicar equipamentos de forma incorreta e, assim, colocar em risco a saúde dos trabalhadores expostos aos agentes ambientais presentes. Devido a essa dúvida, solicitaram a um higienista ocupacional, renomado e com muita prática no campo de avaliação de riscos químicos, testar o método*.
O trabalho consistiu em aplicar o método das Bandas de Controle em uma situação de trabalho na qual existiam resultados de avaliação disponíveis. Era uma área industrial, onde havia a presença de TDI, Tolueno 2,4 – diisocianato. Abaixo, a descrição da atividade e do ambiente.
Cenário da Exposição: Operação de transferência de produto com 5% de TDI livre de um reator para 4 tambores de 200 litros. Duração de 15 minutos, temperatura de operação de 27°C. Foram realizadas três medições, e os resultados das análises mostraram os seguintes resultados:

O valor do Limite de Exposição Ocupacional para curta duração, TLV/STEL é 5 ppb. Ou seja, o maior valor medido é igual a 6,3 vezes o valor do TLV/STEL. Em outras palavras, o FPMR calculado por esse critério é igual a 6,3, o que sugere o uso de um respirador semifacial com filtro químico para vapores orgânicos, que é eficaz para retenção desses vapores.
Como o número de amostras foi bem limitado, utilizou-se a ferramenta IHDA (Industrial Hygiene Data Analyst), especialmente útil para lidar com pequenos conjuntos de dados. De acordo com essa ferramenta, o valor do FPMR proposto é igual a 50.
A segunda parte do trabalho foi aplicar os conceitos de Bandas de Controle. O trabalho é realizado em três fases.
Primeiramente, define-se a toxicidade do material utilizado. Para isso usa-se as frases de perigo constantes na Ficha de Segurança (FDS) do produto utilizado. Através dessas frases define-se a categoria de toxicidade do produto. Quatro frases de perigo encontradas na FDS correspondem a perigos respiratórios. Duas frases, H334 (quando inalado pode provocar sintomas de alergia ou asma ou dificuldades respiratórias) e H351(suspeito de provocar câncer) pertencem a categoria E (casos especiais). Portanto, essa foi a classificação utilizada, a mais perigosa para inalação.
A segunda parte do trabalho foi a definição das quantidades. Os critérios para essa definição são: pequena para miligramas ou mililitros, média para gramas ou litros e grande para toneladas ou metros cúbicos. Como são utilizados 4 tambores de 200 litros, a quantidade foi considerada média.
E, por fim, a volatilidade do produto. O TDI tem ponto de ebulição de 251ºC e nesses processos é utilizado a temperatura ambiente. De acordo com o gráfico apresentado no documento da FUNDACENTRO, a volatilidade está entre baixa e média. Utilizando a tabela para definição do FPMR, chega-se à seguinte conclusão:

O FPMR para o cenário apresentado foi 10 ou 50, considerando os resultados das análises realizadas pelo método quantitativo, e 100 ou 1000 (dependendo da consideração sobre a volatilidade, que se encontrava em uma região limítrofe) para o método das Bandas de Controle. Ou seja, o FPMR definido pelo anexo 5 pode ser 20 vezes maior que aquele definido pelos resultados de medições da exposição no ambiente de trabalho.
Isso comprova que o método de Bandas de Controle é mais rigoroso que o método tradicional utilizado para a seleção de respiradores. Ou seja, o FPMR é substancialmente maior que aquele obtido pelo método tradicional.
Se você tem alguma oportunidade para fazer essa comparação, faça o cálculo, veja o resultado e compartilhe conosco. Contamos com a sua contribuição.
* Este texto é baseado em trabalho técnico apresentado pelo Higienista ocupacional Wilson N. Holiguti durante o X Congresso Brasileiro de Higiene Ocupacional realizado em agosto de 2015.