Dando continuidade aos requisitos normativos contidos no item 4.2, que trata da avaliação dos perigos no ambiente de trabalho do Programa de Proteção Respiratória (PPR) da FUNDACENTRO, hoje vamos abordar o conteúdo da alínea “h”:
h) determinar se os contaminantes presentes podem ser absorvidos pela pele, se produzem sensibilização da pele, se são radioativos, irritantes ou corrosivos para os olhos ou a pele, carcinogênicos etc.

Este item aborda cinco características intrínsecas aos contaminantes que podem estar presentes em um ambiente de trabalho, e que impactam na decisão do higienista no processo de seleção de Equipamentos de Proteção Respiratória (EPR). A seguir, essas cinco características serão tratadas de forma independente.
1. Absorção pela Pele
A rota mais comum para entrada de uma substância química no corpo de um trabalhador é a inalação. Os Limites de Exposição Ocupacional (LEO) são definidos pela inalação da substância química.
Algumas substâncias químicas podem ser absorvidas através da pele. Os valores de TLV® da ACGIH®, assim como os Limites de Tolerância da NR-15 trazem a notação “Pele” para identificar essas substâncias.
A designação Pele refere-se à significativa contribuição potencial da absorção por via cutânea para a absorção total, incluindo as membranas mucosas e os olhos, por contato com vapores, líquidos e sólidos.
A notação Pele também alerta ao higienista ocupacional para a possibilidade de ocorrer superexposição quando também existe contato dérmico com líquidos e aerossóis, mesmo que as exposições por via respiratória estejam no nível do TLV® ou abaixo deste.

2. Sensibilização da Pele
A notação Pele não se aplica a substâncias químicas que possam causar irritação dérmica. No entanto, ela pode acompanhar uma notação de sensibilização para as substâncias que causam sensibilização respiratória após uma exposição por via cutânea.
Algumas substâncias podem agir como veículos, pois quando presentes na pele ou misturadas a outra substância podem promover a absorção desta pela pele. Alterações dermatológicas, ou até mesmo ferimentos, podem também facilitar significativamente a penetração de uma substância no organismo.
Do ponto de vista da proteção respiratória do trabalhador, é fundamental identificar as substâncias que podem ser absorvidas pela pele ou causar sensibilização e irritação cutânea, pois essa rota de acesso, via de entrada, pode ser significativa. Ou seja, nestes casos, mesmo com o uso adequado de EPR, há o risco de contaminação por contato dérmico. Necessário ampliar a proteção, incluindo a pele.
Os índices Biológicos de Exposição (BEIs®) da ACGIH® são bons indicadores para avaliar a da contribuição total da penetração da substância no corpo do trabalhador, por todas as vias de absorção.
3. Substâncias Radioativas
Agentes químicos radioativos, na forma de particulados, presentes no ambiente de trabalho, podem ficar retidos nas membranas do sistema respiratório e emitir radiações ionizantes pelo decaimento nuclear.
Decaimento nuclear é o processo espontâneo pelo qual um núcleo atômico instável perde energia por emissão de radiação, transformando-se em um núcleo mais estável. Essa emissão pode envolver partículas alfa, beta e raios gama, cada uma com diferentes propriedades e potenciais de dano.
Por esse motivo, deve-se evitar a inalação dessas substâncias pelo trabalhador. Uma proteção respiratória eficaz pode diminuir a probabilidade da entrada desses particulados via sistema respiratório, evitando possível agravo.

4. Irritantes ou Corrosivos
Substâncias irritantes ou corrosivas atacam a pele e/ou as mucosas. Podem provocar inflamação ou queimaduras, por exemplo, na pele, olhos e/ou vias respiratórias e causar danos irreversíveis aos tecidos.
Desse modo, além da proteção respiratória para diminuir a probabilidade da entrada dessas substâncias via inalação deve-se proteger também os olhos. O uso de respiradores faciais inteiros ou semifaciais combinados com óculos à prova de gases podem ser a solução para ambientes com produtos irritantes ou corrosivos.
O livro dos valores de TLVs® da ACGIH® contém informações sobre essas e outras características das substâncias químicas na última coluna das tabelas, Base do TLV.
5. Carcinogênicos
A possível exposição a substâncias carcinogênicas, sem limiar seguro, requer cuidados especiais na seleção do EPR mais adequado, com a avaliação toxicológica específica. A ACGIH® caracteriza em cinco notações diferentes para esses efeitos das substâncias químicas.
Na coluna “Notações”, na tabela contendo os valores de TLVs®, temos a classificação da carcinogenicidade da substância, além de outras informações.
Ainda no livro da ACGIH®, em “anexos Adotados”, em seu anexo “A – Carcinogenicidade” há uma descrição das notações. Todas começam com a letra “A”, mas há diferentes conclusões para cada uma das cinco notações.
A maior preocupação está relacionada a notação “A1”, que classifica o produto como carcinogênico humano confirmado. As demais notações têm os seguintes significados: “A2” significa que é carcinogênico humano suspeito; “A3” significa que é confirmado para animais, com relevância desconhecida para seres humanos; “A4” significa que não é classificável como carcinogênico humano e; “A5” significa que a substância não é suspeita como carcinogênico humano.
Importante ressaltar que as classificações de carcinogenicidade divulgadas pela ACGIH® referem-se à exposição inalatória. Outras literaturas disponíveis classificam os produtos considerando outras rotas de entrada no corpo, como por exemplo a ingestão.
Fizemos uma abordagem concisa do tema. Todas essas características citadas na alínea “h” do item 4.2 – Avaliação dos Perigos no Ambiente de Trabalho devem ser consideradas no processo de seleção de um EPR.
Na próxima semana daremos continuidade a esse tema relacionado com o item 4.2 do PPR da FUNDACENTRO, abordando a alínea i) determinar se são conhecidos os limiares de odor, de paladar ou para a indução de irritação da pele para os gases e vapores contaminantes.
Gostou deste conteúdo? Comente e compartilhe. Até a próxima semana e ao nosso último artigo desta série.