Na semana passada, falamos sobre a deficiência de oxigênio no ar respirado, primeiro elemento abordado no item 4.2 do PPR da FUNDACENTRO – Programa de Proteção Respiratória: Recomendações, Seleção e Uso de Respiradores. Discutimos que esse perigo pode estar presente em espaços confinados e que a exposição a essa condição pode causar danos irreversíveis à saúde do trabalhador, ou até mesmo levar à morte.
Hoje, vamos dar sequência ao tema “Avaliação dos Perigos no Ambiente de Trabalho”. Nosso foco será a identificação dos contaminantes presentes na atmosfera. Segundo o item 4.2 do documento da FUNDACENTRO, deve ser feita de forma detalhada da seguinte maneira:

b) identificar os contaminantes que possam estar presentes no ambiente de trabalho e seu estado físico (particulado, gás, vapor). Todas as substâncias utilizadas, produzidas ou armazenadas, incluindo matérias-primas, impurezas relevantes, produtos finais, subprodutos e resíduos, devem ser conhecidas através da análise cuidadosa do processo de trabalho e as informações relativas às propriedades perigosas e à toxicidade dessas substâncias podem ser obtidas nas Fichas de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ). Quando o contaminante não puder ser identificado e não existirem orientações claras, o perigo deve ser considerado desconhecido e a atmosfera deve ser considerada IPVS*. Deve ser verificado também se a pressão de vapor de cada contaminante, que indica maior ou menor quantidade de vapor gerado por um líquido ou um sólido, é significativa na máxima temperatura prevista no ambiente de trabalho.
Além de ser um requisito do PPR da FUNDACENTRO, a identificação do perigo das substâncias químicas é um requisito normativo definido na NR-01, Norma Regulamentadora No 01, garantindo a segurança do trabalhador no ambiente de trabalho.
O primeiro passo para essa avaliação é fazer uma análise detalhada das Fichas de Dados de Segurança (FDS) dos produtos químicos utilizados ou processados, e presentes no ambiente de trabalho. No texto acima, elas são chamadas de Fichas de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ). Essa era a referência antiga para esses documentos, que agora são normalizados e atualizados conforme a norma NBR ISO 14725:2023.
O trabalho deve começar com a elaboração de um inventário de produtos químicos. Cada empresa ou setor precisa ter uma relação, uma lista, contendo nome e identificação de todos os produtos químicos utilizados.
Deve, ainda, manter um arquivo acessível a todos os trabalhadores que manuseiam essas substâncias químicas, contendo as FDS de cada produto. Essas fichas devem conter informações relevantes sobre aspectos toxicológicos, os perigos envolvidos e precauções que devem ser tomadas ao manusear ou manipular esses produtos químicos perigosos. Assim, todos podem trabalhar com mais segurança e conhecimento.
Vale lembrar que alguns agentes químicos podem não estar entre os insumos adquiridos e incorporados no processo. Muitos processos químicos transformam os materiais utilizados, gerando outros contaminantes atmosféricos que não estavam inicialmente presentes. Um exemplo clássico são as resinas fenólicas, alquídicas e melamínicas, bastante utilizadas para dar diferentes consistências em materiais sólidos ou líquidos. Após aplicadas, passam por um processo de cura em estufa, com temperaturas que variam entre 100 °C a 200 °C.
Durante essa operação, ocorre a emissão de formaldeído, agente químico na forma de gás, altamente tóxico e considerado carcinogênico para humanos pela ACGIH®**. Nesse caso, o maior perigo respiratório não é a exposição aos materiais utilizados, mas sim a um subproduto emitido durante o processo.
Para uma avaliação adequada, é necessário ser realizada uma análise criteriosa de todas as etapas do processo. Essa tarefa pode ser bastante desafiadora, pois exige a participação de profissionais especializados, que tenham conhecimento aprofundado sobre os processos implementados na empresa para identificar corretamente os perigos respiratórios envolvidos.

Vamos debater o tema da medição ou estimativa das concentrações dos contaminantes atmosféricos em um artigo posterior. No entanto, algumas informações presentes nas FDS podem ser muito úteis para a estimativa das concentrações. Entre elas, podemos destacar: a pressão de vapor e a temperatura de ebulição de produtos líquidos, além da forma física dos produtos sólidos, se em forma de pellets, grânulos, pós-finos secos ou flocos.
Essas características físicas dos materiais utilizados influenciam na facilidade com que eles se volatilizam e na geração de aerossóis, que podem se misturar ao ar ou ficar suspensos na atmosfera de trabalho.
A ausência de informações sobre os perigos das substâncias químicas, que são manuseadas, emitidas ou presentes em um ambiente de trabalho, pode levar a grandes equívocos na seleção de EPRs e, especialmente, na seleção dos filtros utilizados em equipamentos filtrantes.
Uma solução encontrada em várias empresas, por falta de informações precisas sobre as características físico-químicas dos agentes, é a escolha de filtros polivalentes. O profissional de segurança, tentando proteger o trabalhador de vários tipos de agentes químicos, acaba por selecionar um filtro que possa reter uma ampla variedade de contaminantes.
O exemplo clássico é a utilização de cartuchos multigases que podem reter vapores orgânicos, gases ácidos, amônia e formaldeído associados a um filtro P2 ou P3 para particulados. Essa combinação de filtros, químico multigases e mecânico é onerosa, pois os cartuchos têm menor durabilidade comparados com os cartuchos para contaminantes específicos; além disso, pode ocorrer que nenhum dos tratamentos do carvão ativado seja eficaz para o agente presente no ambiente; como também, essa combinação de filtros pode causar grande desconforto ao usuário devido ao peso e maior resistência à inalação.
No próximo artigo vamos escrever sobre um contaminante específico, que além de ser nocivo ao trabalhador, pode comprometer a eficiência dos filtros para particulados usados em EPRs do tipo filtrantes. E daremos continuidade a esse assunto abordando a alínea “c” do item 4.2 do PPR da FUNDACENTRO: c) determinar se existe óleo presente no caso de contaminantes particulados.
* IPVS. Imediatamente Perigosa à Vida e à Saúde.
** ACGIH. Conferência Governamental Americana de Higienistas Industriais.