Criatividade! O ser humano é muito criativo. Todos os dias surgem produtos e soluções novas. Isso faz parte do desenvolvimento humano e esperamos que continue assim. Na indústria, há grande incentivo à criatividade. Grande parte das melhores soluções conhecidas foram propostas pelos próprios operadores. Temos que incentivá-los a apresentar soluções criativas. Eles conhecem os problemas melhores que os especialistas e podem trazer soluções inusitadas, bem inovadoras e efetivas.

Na área de segurança e saúde, as ideias têm que passar por um processo de análise e viabilidade antes de serem implementadas. Iniciativas mal planejadas podem colocar os trabalhadores sob graves riscos. O caso desta semana refere-se a um invento bem perigoso. Trata-se de um equipamento destinado a proteção respiratória do trabalhador em situações de riscos extremos, conhecidas como IPVS (Imediatamente Perigosas à Vida e/ou à Saúde. Vamos ao caso.

Durante uma visita em uma empresa de médio porte, o engenheiro de segurança mostrou o preparo de um trabalhador para fazer a limpeza de um equipamento, cuja atividade requeria o uso de uma máscara autônoma, pois as concentrações dos agentes químicos eram desconhecidas, e podiam chegar próximas aos valores IPVS.

Antes de iniciar os trabalhos, o técnico de segurança verificou que a máscara autônoma estava sem a válvula de demanda e o manômetro do cilindro com a proteção trincada, impossibilitando a visão do ponteiro. Nesse momento, surgiu um funcionário da manutenção dizendo que tinha a solução para o problema. Pouco tempo depois, ele trouxe um saco plástico, igual a esses utilizados para armazenar lixo, com três aberturas, uma na região da cabeça e duas para a passagem dos braços. Atrás, havia outra abertura para passagem de uma mangueira conectada a uma linha de ar comprimido, com filtro coalescente.

Solução criativa, mas ineficiente.

Esse saco plástico seria vestido pelo trabalhador, junto com os óculos de ampla visão. Os braços e as pernas deveriam ser também cobertos com material plástico. Todas as aberturas deveriam ser vedadas com fita isolante de modo que, quando o ar entrasse no conjunto, iria inflar a área coberta pelos materiais plásticos, mantendo uma quantidade suficiente de ar na zona respiratória do trabalhador.

Após a apresentação da solução, o profissional estava todo orgulhoso, esperando elogios e a aprovação do engenheiro de segurança da empresa. Esse foi muito cuidadoso para não inibir a criatividade de todos que assistiam aquela apresentação. Porém destacou os seguintes pontos:

  • Não se sabia com precisão quais seriam as concentrações de contaminantes atmosféricos nocivos à saúde do trabalhador presentes no interior do equipamento.
  • A “vestimenta” poderia atrapalhar a visão e a comunicação do trabalhador. Sendo o trabalho em um espaço confinado, isso poderia dificultar a fuga, em caso da ocorrência de uma emergência.
  • Para essa atividade, seria indicado o uso de uma máscara autônoma. Havia sérios problemas com a manutenção desse equipamento na empresa.  
  • Equipamentos de Proteção Respiratória (EPR) e qualquer EPI utilizado pelo trabalhador tem que ser aprovado pelo Ministério do Trabalho e recebe um certificado (CA).
  • As máscaras autônomas devem passar por ensaios de vedação facial com cada trabalhador que irá utilizá-las.
  • Esses trabalhadores devem ser treinados sobre o uso correto do EPR.

Em suma, notou-se que a empresa não tinha um Programa de Proteção Respiratória implementado e não existia um critério definido para a seleção de respiradores em situações não rotineiras.

Até a próxima semana com mais um artigo técnico ou caso de Proteção Respiratória.

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